O reflexo

Laura viu sua imagem refletida nas enormes portas de vidro de uma loja. 
Quando acostumou-se com seu reflexo percebeu o que havia por trás das portas: grandes caixas de madeira pintadas de verniz, no formato geométrico de hexanos irregulares, acolchoadas e com um toque de dourado nas laterais. Por um segundo viu sua imagem sincronizada com o caixão.
Começou imaginar seu funeral. 
"Minha família." Foi a primeira coisa que pensou. 
Começou imaginar seus familiares ao redor do seu corpo mórbido e pacífico, chorando sua ausência precoce mas celebrando a vida que teve, cantando as canções alegres e tocantes que trazem esperança à memória de que a vida, para ela, só estava começando. Agora ela viveria na Eternidade. E que aquele momento era um "até logo".
Imaginou seus amigos refletindo sobre como a vida é breve e que jovem também morre. E que talvez sua morte despertasse neles o desejo de não viverem em vão. 
Imaginou os amigos dos amigos da família dando apoio e dizendo palavras doces e abraçando mais forte que nunca. 
Imaginou alguém encontrando entre as páginas do seu livro favorito, rabiscos em forma de versos e uma lista do que fazer antes de morrer. 
Laura imaginou como teria sido sus últimos momentos de vida. Talvez tenha morrido num acidente de carro ao comprar pão para o café da tarde ou de uma doença rara que tomou conta do seu corpo, não dela. Pensara se conseguira realizar seus sonhos, até aqueles mais pequenos. Será que fui feliz? Será que eu vivi?. 
O sinal abre. 
A buzina toca. 
Laura olha o relógio: estava atrasada para o trabalho.

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