Culto racional?

Era um domingo frio, como outro qualquer. 

A irmã Mariazinha entra na igreja, escolhe seu lugar na terceira fileira, perto da janela e senta.

Aos poucos, os membros e visitantes vão chegando e preenchendo aquele lugar, até então, silencioso.

O culto começa. Cantam-se hinos e hinos conhecidos e a igreja toda cantando, como numa apresentação impecável de tenores, baritos e sopranos. A irmã Maria, estava ali. Não muito diferente dos demais.

Pouco depois, as orações.. Ah, que orações bonitas. E a igreja dizendo "amém".

O Pastor toma a palavra. 

A igreja fica em silencio por respeito. Na verdade, era mais que respeito. Era interesse genuíno.

De repente, os ventos sopraram mais forte, adentrando pela janela, resfriando todo o lugar, até então, aquecido pelo calor humano. A irmã Maria começa a tremer. Ouve-se uma voz, que não era a do pastor: "alelúias".

Depois ouve-se mais cinco, oito, vinte, trinta, oitenta vozes. Todas dizendo "alelúias, Deus seja louvado.." 

Todo aquele silêncio foi interrompido por um "alvoroço santo".

Uns, gritavam porque estavam vendo o "mover do espírito" na vida da irmã Mariazinha, que estava tremendo... e outros gritavam simplesmente com medo de não parecerem "espirituais" como os demais.

Todos faziam o mesmo à sua maneira.

A irmã Mariazinha, encantada com aquilo tudo. Nunca havia presenciado algo tão sublime.

O pastor pede que todos deem as mãos e oram fervorosamente, como se o céu fosse se abrir naquele momento e os anjos celestiais os fossem levar dali, diretamente para o céu.

Ao término da oração, encerra-se o culto também. Muitos foram para seus lares, abraçados com a família. Outros estavam atônitos, olhando para a irmã Mariazinha, esperando algum pronunciamento  sobre o "agir do espírito" em sua vida naquele momento. Ela, por sua vez, não sabendo que a história acontecera por sua causa, vai até o seu lugar, pega sua bíblia. Despede-se dos irmãos e diz: "da próxima vez trarei um casaco mais quentinho. Os irmãos não sabem o quanto senti frio essa noite!"

- Texto escrito em 2011 -