passarinha

Como uma pipa Amarrei minha ideia de você numa cordinha fina e frágil, mas segurava com toda a força do mundo para que a utopia não partisse. Tentei fazer as ideias se habituarem à minha ideia de que talvez pudéssemos ser algo. Essa falsa liberdade estava te matando. Essa verdade prematura em forma de linha, estava me cansando. Parecia feita de chumbo. Tinha o peso da terra. Suas idéias nem eram ditas, mas o silêncio gritava "me deixe partir". Puxei minha ideia de você para bem pertinho de mim, perto o suficiente para eu desamarrar a utopia e deixá-la voar.  M as a ideia não voou. E, com um adeus silencioso e grato, eu parti.

Idealizei você Diga-me que estou completamente enganada Que você não sabe de nada E que tudo deseja saber Que palita o dente após o almoço Que come sobremesa antes da janta Que deita de barriga cheia Que pensa nas idiotices da vida Que se pergunta se tem esperança Que sonha antes de dormir Que dorme pra esquecer O incômodo carinho  De alguém que lhe quer bem Mas não é quem você quer amar Não é quem deveria ser

Estamos num momento em que um dos assuntos principais tem sido a birra infinita na política entre esquerda, direita e alienados. Dentre estes, vemos uma parte da massa evangélica. Não vejo objeção do cristão estar envolvido, pelo contrário, como disse Danilo Mendes, em seu blog   " considere a ideia de ser um cristão politicamente envolvido, ou desconsidere a ideia de ser cristão."  . O problema surge quando, em nome de deus, age-se como o diabo. Recentemente li sobre pastores nos Estados Unidos que tem lutado pelos direitos da sociedade.  Muitas vezes ficamos admirados com o que acontece ao redor do mundo de pessoas que, com gestos simples, impactaram a vida de alguém, mas ignoramos o que acontece à nossa frente e ainda fingimos que é muito difícil fazer um gesto simples.  Quais desculpas inventamos? Não é de hoje que o comodismo e o conformismo está aí andando de mãos dadas com a indiferença. "Se eu ignoro, então não existe."  Acontece que não estamos lidando

Estrela gostava de ser uma estrela, mesmo não sabendo o que uma estrela fazia. Era solitária, mas não sabia o que era solidão até perceber que não era a única naquele universo. Queria se comunicar com a outra luz, essa luz quente que era tão brilhante e tão maior que ela. Então pensou "vou brilhar o máximo que posso para que essa luz também perceba que não está sozinha e, quem sabe, poderemos nos aproximar e deixaremos de ser sozinhos". Assim que acabou de pensar, viu ao longe uma massa escura se aproximando. "O que será que é isso? Essa coisa que flutua, que vem em minha direção e que traz consigo um clarão que rasga o céu com esse barulho assustador?". A Estrela sentiu medo! Ah, vou morrer no meio dessa confusão. Pensou. E assim, começou a lamentar, mas viu que seu lamento não parava aquela massa - que decidiu chamar de nuvem - então pensou fazer o que sabia de melhor: brilhar.  Estrela fechou os olhos e brilhou o máximo que podia, na esperança de que a out

Assim como os navios  Que flutuam através das águas Navegando no desconhecido Onde o horizonte diz "vem" Um dia iremos encostar no cais do mesmo porto E daremos descanso aos nossos pés cansados

É tão interessante como os medos são os mesmos e as esperanças também. Lendo umas publicações de alguns dos portadores de polimiosite, percebi que não sou nada diferente.  O medo que se tem ao começar com os imunossupressores, a paranoia que surge nos primeiros dias "preciso passar álcool em gel em tudo"; a alegria de se ver um pouco mais disposta por causa do corticoide, mas a tristeza de ver seu corpo e seu rosto se transformando numa mistura de Geleia do Caça-Fantasmas com o Fofão; o cansaço de tomar muitos remédios e querer jogar tudo pro alto, mas catar tudo de novo porque você precisa deles naquele momento. É um tanto cansativo.  Porém, a alegria de que em algum momento você consegue vestir uma blusa, lavar a cabeça, depilar sua axila, vestir uma calça e cortar um pedaço de carne e tudo isso sozinho, dá uma alegria tão grande, mas tão grande, que você se sente fazendo aquilo pela primeira vez. É tão gostoso quando você consegue caminhar sem precisar de apoio e

Era uma ponte bonita.  E cinza.  O que a tornava mais bonita pois realçava as cores das flores que cresciam sobre sua base. A ponte não tinha nome, como algumas dessas pontes famosas, mas isso não a tornava insignificante.  A ponte era querida. Foi palco dos mais sinceros beijos de amor, das mais doloridas despedidas e das grandes expectativas de quem desejava saber o que havia do outro lado. A ponte se sentia feliz por ser passagem; possibilitar o caminho.  Um dia a ponte percebeu que só conhecia o caminho até sua construção e nunca soube o que havia depois dela.  Todos as manhãs a ponte imaginava o que teria acontecido com as pessoas que passaram por ela. Então suspirava e pensava "quem por mim atravessa nem imagina que quero partir também!". Certo dia, cansada de imaginar o que havia depois dela, atravessou a si mesma e partiu.