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Mostrando postagens de outubro, 2014

Culto racional?

Era um domingo frio, como outro qualquer.  A irmã Mariazinha entra na igreja, escolhe seu lugar na terceira fileira, perto da janela e senta. Aos poucos, os membros e visitantes vão chegando e preenchendo aquele lugar, até então, silencioso. O culto começa. Cantam-se hinos e hinos conhecidos e a igreja toda cantando, como numa apresentação impecável de tenores, baritos e sopranos. A irmã Maria, estava ali. Não muito diferente dos demais. Pouco depois, as orações.. Ah, que orações bonitas. E a igreja dizendo "amém". O Pastor toma a palavra.  A igreja fica em silencio por respeito. Na verdade, era mais que respeito. Era interesse genuíno. De repente, os ventos sopraram mais forte, adentrando pela janela, resfriando todo o lugar, até então, aquecido pelo calor humano. A irmã Maria começa a tremer. Ouve-se uma voz, que não era a do pastor: "alelúias". Depois ouve-se mais cinco, oito, vinte, trinta, oitenta vozes. Todas dizendo "alelúias, Deus sej

O reflexo

Laura viu sua imagem refletida nas enormes portas de vidro de uma loja.  Quando acostumou-se com seu reflexo percebeu o que havia por trás das portas: grandes caixas de madeira pintadas de verniz, no formato geométrico de hexanos irregulares, acolchoadas e com um toque de dourado nas laterais. Por um segundo viu sua imagem sincronizada com o caixão. Começou imaginar seu funeral.  "Minha família." Foi a primeira coisa que pensou.  Começou imaginar seus familiares ao redor do seu corpo mórbido e pacífico, chorando sua ausência precoce mas celebrando a vida que teve, cantando as canções alegres e tocantes que trazem esperança à memória de que a vida, para ela, só estava começando. Agora ela viveria na Eternidade. E que aquele momento era um "até logo". Imaginou seus amigos refletindo sobre como a vida é breve e que jovem também morre. E que talvez sua morte despertasse neles o desejo de não viverem em vão.  Imaginou os amigos dos amigos da família dando ap

Lições

Quando eu era criança, minha família não era provida de muitos bens materiais. Morávamos numa casa bem pequena em Itaperuna. Não tínhamos luxo, vivíamos com o possível, mas nunca faltou amor, e nem goiabas e mangas, que caíam no nosso quintal.  Eu estudava em escola pública. Uma escola muito boa, por sinal. Eu estava no C.A. Lembro-me do nome da professora: Vivília. Mas gostávamos de chamá-la de Tia Vivinha. Aprendi a ler e a escrever com ela. Aliás, aprendi várias lições.  Uma das minhas colegas de classe distribuíra convites para sua festa de aniversário. Fui a única que não recebeu. Seu argumento foi que "pobre não iria à festa dela.   Seu nome era Gabriela. Como criança não consegue esconder suas reações, chorei.   A professora aproximou-se de mim, enxugou minhas lágrimas e entregou-me seu convite. Não compreendi porque alguém daria seu próprio convite para uma "festa de rico" a alguém! Hoje, percebo a grandiosidade desse dia. Não encaro este episódio como t

Soneto de ninguém

Teus lábios são poesia Que desejo recitar Mas teus olhos, teus olhos são enigmas Labirintos por onde me perco. Tão adequado te querer Teu sorriso guia até os mais duvidosos Através das rimas inacabadas Na natureza dos seus versos Se você se encontrar en tre os sozinhos Eu estarei te esperando Com os braços abertos Permita-se sentir Vem ouvir de mim Que a gente se precisa

Sou fã

Um fã é um admirador de uma ideia, pessoa ou arte. Então sou muito fã. Sou fã dos meus avós: dos avós paternos pelos 61 anos de puro amor, pela mansidão e pelas risadas como modo de encararem as dificuldades que a vida traz; sou fã da minha vó materna. Ela é meu bebê. Se um dia eu não tiver filhos, pelo menos com ela tive essa experiência de ser mãe, aos 25, de alguém de 91 anos. Sou fã da ajudadora de vovó. Ô mulher dedicada. Sem ela a vida (minha vida) não seria a mesma. Sou fã do Oseas. Um coroa trabalhador que nunca deixou sua deficiência o impedir de tirar sua carteira de motorista, se atualizar tecnologicamente, aprender a fazer chamadas de vídeo no Facebook e no extinto MSN (saudades) e a compartilhar vídeos do Youtube. Esse é meu pai. Sou fã do Pr. Nilson. Ele tem um jeito muito carinhoso de atender as pessoas. Incentiva e fica no mesmo barco que você. Sou fã do Davi. Ele é meu tesourinho. E ele sabe disso. Ele é grandão e me sinto muito protegida no abraço dele. M