Minha vó e eu

Minha vó não é uma velhinha comum. Talvez ela seja no seu ponto de vista. Pra quem não a conhece: vocês não sabem o que estão perdendo! 
Minha vida toda vivi com ela e ela cuidou de mim. Coisa de vó! Desde que eu me lembro, vovó sempre esteve lá. 
Tenho tantas histórias!
Quando eu arrumei briga no colégio, ela estava lá me defendendo, não porque eu pudesse estar certa, mas porque eu não sabia brigar e provavelmente eu apanharia feio.
Quando, aos 7 anos, "levantei minha mão" dizendo que queria aceitar Jesus em meu coração, após ouvir de uma  criança que nunca vi na vida, que lá na frente estavam dando balas pra quem levantasse a mão, vovó foi lá me buscar. E no dia do meu batismo, quando eu já estava ciente da minha decisão, ela estava lá também, ao lado da minha mãe. Lindas as duas.
Quando eu confundi o carro do peixeiro com um caminhão de mudança, ela estava lá na rua pagando esse mico comigo. 
Quando meu primeiro namorado foi conhecê-la, vovó fez questão de providenciar tudo: comprou um bolo de festa todo decorado. Sempre vou rir disso! Não sei se foi uma celebração de um milagre ou se ela achou que eu ia me casar com ele. 
Me lembro da primeira vez que ela teve a síndrome da ausência e acordou sem saber quem éramos. No início foi tão difícil lidar com aquilo, mas na medida em que ela ia melhorando, foi tão engraçado! Ela falava a maioria das palavras em italiano e não sabemos italiano! Ria da feiura do médico e colocava a culpa em nós; tinha súbitas vontades de caminhar pelo quintal de madrugada e ainda falava que a samambaia que estava na varanda era maconha.
Foi uma fase e tanto, essa! Mas superamos isso.
E superamos tudo mais do que veio depois disso. E temos superado a cada dia. Sabemos Quem cuida de nós. Deus é o nosso refúgio. E mesmo nas situações difíceis, tudo vai bem!
Minha vó me ensinou sobre esse Deus. Me ensinou a cantar para Ele: com minha voz e com todo o meu ser. 
Me ensinou tantas coisas! 
As mãos que cuidavam de mim e trabalhavam arduamente, agora repousam, e as minhas, se dispõem naturalmente a cuidar dela e a preparar seu "café com leitinho e pão sem manteiga" todos os dias, mesmo que ela não coma o pão com manteiga! 
É tão bom acordar ouvindo isso!
É tão bom perguntar "quem é o meu bebê?" E ela responder, cheia de charme "sou eu".
É tão bom passar o dia ouvindo sua voz me chamar, mesmo que chame mil vezes!
É tão bom receber seu beijinho de boa noite cheio de amor! Acho que ela faz isso pra compensar o "obrigada" que ela me diz após eu dizer que a amo. 
Então ela dorme. E quando tem pesadelo, chama sua mãe. 
Eu sou sua mãe. 
Ela é o meu bebê.
E eu a amo tanto! 
Amo seus cabelinhos brancos destacando seus "olhinhos verdes cor de capim"; sua "vozinha rouca de jacaré" pra dar um "q" a mais no drama excepcional que ela faz; suas mãozinhas frágeis com a pele tão fininha que dá pra ver o caminho das veias. Amo tudo nela. 
Amo até a saudade que sinto quando passo um dia longe dela e me preocupo como uma mãe ao deixar seu filho na escola pela primeira vez.
Que privilégio ser sua neta! Fazer parte da sua história e ela da minha.
Espero poder contar nossa história para meus sobrinhos, filhos e netos.
Espero poder ter uma velhice serena como a dela.
Espero poder amar e ser amada como ela é.
Minha vó. Meu bebê.
Não há memórias em mim em que ela não esteja.
Sempre juntas.

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