Laura, a controladora

O som de uma vassoura varrendo o chão interrompeu o silêncio pacífico da casa. Às 22h30min. Mas quem em sã consciência varre o quintal às vinte e duas horas e trinta minutos da noite? Laura. Preciso deixar tudo arrumado para não ter surpresas quando acordar. Pensava ela. Mas que diabos poderia acontecer em uma noite? E em que um quintal limpo afetaria a manhã? Bem, ninguém sabia. Só Laura, que desenvolveu o hábito de deixar tudo no lugar antes de dormir. Às vezes ela nem sabia porque gostava de ver tudo no lugar. Ela deixava até o seu desktop organizado. Até as pastas tinham pastas especificando cada uma delas. Nada muito exagerado. Apenas organizado e de fácil compreensão.
Por um segundo Laura parou e suspirou. Estava cansada de deixar as coisas no lugar. 
Ao levantar, arrumava sua cama, mesmo sabendo que em seguida voltaria para ela; dobrava suas roupas de um jeito que ficavam todas bonitinhas na gaveta separadas por cor e cada gaveta era para um tipo de roupa: de sair, de ficar em casa e para pijamas e shorts. Isso não é irritante?
Na sala, poucas fotos enfeitam o rack, que está cheio dos livros maravilhosos. Tudo arrumadinho.
Na sala de jantar uma mesa rústica grande o suficiente para 10 pessoas, com apenas uma planta de plástico bonita enfeitando a mesa.
Na cozinha uns quadros pra preencher o vazio debaixo de um dos armários. Tudo planejado.
Ela queria que tudo estivesse no lugar. Por que?
Porque depois de alguns fracassos e de ter que fazer e refazer planos, Laura queria ter o controle de certas situações ou então sentir-se pronta para qualquer situação que pudesse ocorrer e não se encontrar perdida na bagunça. Por isso tanta arrumação. "Se acontecer isso, já estarei pronta porque já está arrumado".
Laura falava metaforicamente da vida.
Coitada de Laura, tentando controlar aquilo que não tem rédeas: o futuro. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gente que Inspira - Beatriz Bastos

Para a sua informação...!

Um posso de cada vez.