O dia que conheci Paciência

Foi numa tarde de segunda feira.
Na verdade, foi numa quinta feira, mas o fato é que só a conheci de fato na segunda.
Ela dividia a mesma enfermaria com vovó. Separadas apenas por uma senhora de olhar triste e amarelo de icterícia. 
Uma coisa sobre hospital é que parece ser o lugar com mais fé que existe. No horário de visita chega a ser engraçado como tanta gente vem anunciando um deus diferente. Outro fato interessante é que não importa o quanto o almoço e a janta sejam boas durante a semana, sábado e domingo é sopa. E também não importa o tipo de cadeira o acompanhante recebe. Cadeiras de hospital estão aí pra provar que quando você acha que encontrou uma posição confortável, na verdade não encontrou. 
O que mais me encanta são as pessoas que entram aqui. Algumas se comovem e outras saem se benzendo agradecendo a Deus porque "pelo menos não é comigo". Mas eu nem sei porque entrei nesse assunto. Esse texto é sobre a Paciência!
Não sei se foi proposital esse nosso encontro, mas eu gostei dela na primeira vez que conversamos. Uma mulher de 52 anos com um lenço rosa na cabeça. Pensa em alguém que adora conversar. Ela! E não pense você que é uma conversa triste de "tenho câncer e estou morrendo". Pffffff. É tudo alto nível com direito a banquetes imaginários sendo servidos por gente bonita e sensual, com exceção de Roberto Carlos, que faria um especial de natal só pra gente. Dentre uma conversa e outra sobre a vida ela cita sua frase favorita: "é curando as chagas com paciência que se vive". Imediatamente me senti numa máquina do tempo que retrocedeu 60 minutos, e me colocou de volta ao momento em que me encontrava cheia de comida no colo porque minhas mãos não conseguiram segurar os talheres para cortar um mísero pedaço de frango! 
Me faltou paciência. Comigo. 
Dona Paciência estava alí me ensinando (relembrando) que para enfrentar nossos temores ou seja lá o que for, é preciso ter paciência. Ela não falou muito diferente do que Paulo escreveu:
"E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não nos decepciona." Romanos 5.3-5a.
Tudo o que vivemos não pode ser desprezado porque é o resultado de quem somos hoje. Dona Paciência, aos poucos, foi me mostrando que nem quem tem esse nome sabe ser paciente o tempo inteiro. Mas é a vida. E se tudo fosse tão perfeito não teria graça! É a nossa história sendo feito através do que somos e de como agimos diante das circunstâncias.
Somos todos iguais.

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