Come esse biscoito aqui, Laura.

- Gente, o que vocês vieram fazer aqui?
- Viemos te buscar.
- Mas cheguei ontem... queria ficar mais.
- Você precisa vir conosco.
Confusa, Laura deixa seu café em cima da mesa e se despede de suas amigas e de mais umas 300 adolescentes que ela não tivera oportunidade de conhecer.
Laura estava em um acampamento para meninas. Era o primeiro acampamento dela. Arrumou sua mala e entrou chateada no carro. Ficou em silêncio a metade da viagem.
O dia não estava ensolarado , mas estava bonito. Olhava as nuvens.
- Pare o carro alí, Jorge. Disse Anselma, uma senhora de cabelos ruivos e de um estilo duvidoso.
Jorge estacionou o carro debaixo de uma árvore grande e bonita, numa lanchonete de beira de estrada, dessas que a comida é maravilhosa porque tem aquele toque especial de monóxido e dióxido de carbono. 
- Laura, saia do carro um pouquinho. Come aqui esse biscoito passatempo enquanto olha esses coelhinhos aqui. Não são bonitos? 
Laura sai do carro e faz exatamente o que Jorge diz. 
- Laura, está gostando do biscoito? Come mais. Laura acena com a cabeça e fica na expectativa de que Anselma traga uma latinha de Coca Cola para acompanhar.
- Laura, - Laura já não aguentava mais ouvir seu nome ser repetido várias vezes -, o motivo de você estar voltando para casa é que sua mãe teve uma piora. Sua mãe morreu.
"Sua mãe morreu" não combinou com o gosto doce que sentira ao comer o passatempo de chocolate. 
Também não combinou com os coelhinhos fofos e nem a árvore bonito sob o qual estava amparada.
Não combinou com o céu, incrivelmente azul com nuvens que deixavam os feixes do sol atravessarem por elas como se apontassem o caminho.
Entrou no carro, calada, enquanto Jorge e Anselma falavam palavras de conforto que Laura nem entendia. 
Laura queria mesmo era chegar à casa. 
E ao chegar à casa, sabia quem não iria encontrar.


Vera Lúcia
In Memoriam
14-09-2001

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