Claros sinais de loucura

Eu deveria estar dormindo. São 4:17 da manhã. O chão anuncia que a chuva cai. 
Estou acordada, mas deveria estar dormindo. 
Não consigo dormir porque estou com muita dor e não tomei os remédios pra dor (Dr, Clóvis, se o senhor estiver lendo isso, por favor, não brigue comigo!) porque os remédio irão me deixar bem grogue e vou apagar e vou perder a hora da prova e também porque os pensamentos estão bem acordados. Na verdade, eles estão gritando.
O que gritam? R-E-S-P-O-N-S-A-B-I-L-I-D-A-D-E-S.
Sim. Você tem 26 anos e chega à conclusão de que às vezes parece ter 10 anos querendo o colo da mãe; noutras vezes parece ter 80, onde sente um peso, não fardo, de já ter vivido bastante coisa na vida, e por fim, você se lembra que tem 26 anos. 1/4 e mais alguma coisa de 1 século de vida. 
Você pensa na sua família, sobre o que eles esperam de você.
Você pensa nos seus amigos, que também esperam algo de você.
Afinal, com pressão ou sem pressão, todo mundo espera alguma coisa de todo mundo. 
Já reparou isso? Você espera algo de sua família, dos seus amigos, de você mesmo...
"Quando é que começarão a chegar todas aquelas coisas boas que as pessoas nos desejaram no nosso aniversário?" Taí uma frase que eu morro de rir por ser bem irônica e idiota. 

E esse negócio de esperar é meio complicado, porque nem sempre temos paciência para esperar. E não estou numa fase de "querer esperar". 
Cansei. Cansei de esperar respostas, de fazer mil exames, de sentir como se estivesse fazendo minha família vender o rim para pagar os exames - o que é uma ideia ruim, se for pensar bem, porque a maioria tem problema renal. Seria melhor se vendesse o fígado, que se regenera, mas ninguém iria querer ser matriz hepática do mercado negro. Eu não iria querer um negócio desses! Mas cada um ajuda como pode.
Mas, enfim... cansei de esperar. 
Isso me (te) torna alguém ruim? Uma incrédula? Uma pessoa que não "confia em Deus"?
Digamos que não me encontro numa fase muito legal da vida, mas que tenho que aprender muita coisa sobre essa fase e parece que a qualquer momento terei que fazer uma apresentação em power point sobre o que aprendi. 
E o que estou tentando aprender?  A chorar.
Sim. Chorar. Você nunca chorou? Não? MENTIROSO!

Sempre tive de ser forte porque alguém precisava de mim. Nesse período aprendi a não chorar. Engoli muito choro. Agora que não tenho mais por quem ser forte, não sei parar de chorar; é um choro de espanto por saber que posso chorar! MEU DEUS, EU POSSO CHORAR! Um choro de desabafo, cansaço. Já sentiu isso alguma vez? Liberdade para chorar? 
Não, não estou chorando agora, até porque não conseguiria escrever com os olhos embaçados. 
Às vezes, quando me pego cansada da mente, do físico - de sentir dor o tempo inteiro-, da alma e percebo que vou - que preciso - desabar, me parece que é insignificante, que meu choro é tolo e que o sofrer do outro é mais importante que o meu. Não que o meu sofrer seja maior que o do outro. Não quero dizer isso. 
Quero dizer que parece que não tenho o direito de sentir. 
Que tenho que ser forte o tempo inteiro. 
Que não posso desanimar no caminho. 
Que não posso dizer que não estou bem. 
Que não posso chorar ou perder a esperança. 
Que não posso.
Que não.
Uma rajada de "nãos" que não sei se são da minha cabeça notoriamente perturbada com tantos "nãos" ou se são de verdade, das pessoas ao meu redor.
Também não estou querendo dizer que ninguém se importa. Se eu disser isso sou a maior ingrata do século!!!

Mas você me entende?
Quando estamos cansados nos tornamos meio egoístas, queremos atenção para nós, mas não consigo lidar com isso porque me parece que "atenção" é algo que eu preciso dar e não receber. E no momento não estou conseguindo dar e nem receber. 
Mal consigo lidar com meus sinais de loucura, quem dirá da loucura do outro. É tudo muito novo pra mim.
Certa vez li que há dois tipos de egoístas: os que vivem só para si e os que vivem só para os outros.
Não estou encontrando o equilíbrio disso. Não sei a que fio de meada me encontro.
Não tenho o "outros". E nunca tinha vivido só para mim. E olha, que novidade, heim! 
Ser só eu. 

A vida não é ruim. Tenho casa própria. Família e amigos queridos por perto. Só não tenho muita saúde. Risos. 
E não tenho você.
Cansei de ser eu mesma - sei o eu sou, mas quero mais. (Obrigada SILVA e Duca. Emojis de coração pra vocês!)
Dizem que estou no caminho certo. No "caminho certo" de quem eu não sei.
Só sei que continuo caminhando... me sentindo no filme "Peixe grande e suas histórias maravilhosas", mesclando a realidade coma fantasia. 
Mas a vida não é um filme. 
Não estou num filme, mas sou protagonista. 
Você é protagonista. 
Nós somos protagonistas. 
Da vida. 
E ela passa sem pedir licença. 
Vai passando e levando coisas, trazendo coisas, nos levando... e cabe a nós saber levá-la. Não. Mil perdões! 
Não cabe a nós saber "levá-la". 
Cabe a nós saber vivê-la. 

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