A caminhada

Antes de sair de casa colocou na mochila um livro, umas fotografias, algumas peças de roupas novas e umas coisas clichês que são necessárias. 
Disse tchau para as paredes, foi pra rua e sorriu. Foi sem olhar para trás.
Passou por lugares estranhos e em cada lugar que passava deixava algo seu, como se fosse uma marca que os apaixonados fazem nos troncos das árvores. 
Melissa corria certa de que o paraíso estava próximo e quanto mais avançava percebia que ficava mais longe dos que deixara para trás. Por sorte, gostava de aventura. Mas como em toda aventura uma hora o desconhecido cansa e o que mais se deseja fazer é o que a Dorothy fez com seus sapatinhos mágicos enquanto se achava perdida na terra de Oz. 
Melissa não estava certa de que o caminho era mesmo aquele mas sabia que deveria continuar. Essa era a  utopia: seguir em frente.
Mas nem todo caminho é uma reta. Alguns caminhos nos levam a outros caminhos, que nos levam a outros caminhos que nos trazem de volta para o ponto de partida.
Melissa estava cansada. Tão cansada quanto alguém que procura a metade da sua laranja. Mas ela não queria ser metade. Ela queria ser inteira. Inteira como uma árvore: que dá sombra aos castigados pelo sol que cega, seca e que também ilumina; que dá abrigo em dias chuvosos e é testemunha dos que deitam sobre seus pés para lerem um livro ou para falarem de amor. 
Por vários dias Melissa começou a lembrar das coisas que ficaram para trás. Sentiu vontade de voltar, mas não sabia nem onde estava. Estava claro para ela. 
Estava perdida. 
Longe de casa, cansada e sozinha.
Chorou até adormecer. Acordou com o barulho de água corrente. Era um riacho. Apressadamente levantou-se, bebeu daquela água, que parecia refrescar sua alma. Nem calçou os sapatos, foi correndo o mais rápido que pode na esperança de que o riacho a levasse até onde ela deveria estar. 
Nada encontrou além do mar. 
Mas se ela tivesse se preocupado em apenas caminhar e não em chegar ao destino o mais rápido possível, teria percebido que se tivesse olhado para trás ao sair de casa teria visto quem mais amava acenando um aceno de "volte logo" e uma pequena trouxinha com um suflê de abóbora delicioso para ela levar e pode comer quando sentisse fome; teria visto também seus amigos, felizes, por vê-la tão corajosa; teria percebido que se tivesse olhado para o lado num desses caminhos que levavam a outros caminhos, encontraria pessoas amigáveis que a convidariam para entrar e descansar numa cama quentinha; teria percebido que passou por várias pessoas e cada uma com milhares de histórias fascinantes que ela jamais saberá. Talvez teria mesmo encontrado o riacho, mas ao chegar ao mar, teria se deliciado com a infinitude e suas lágrimas de paz se misturariam com aquelas águas salgadas da imensidão. 
Teria sentido satisfação de ter chegado até alí.
Teria percebido que o paraíso não era o destino, mas a própria caminhada.

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