Confissão

Fico me perguntando das coisas que não ousamos dizer. 
Tem palavras que não proferimos porque sabemos que trarão mágoa para quem as ouvirem. Mas ainda não estou me referindo a isso. Falo das coisas que pensamos quando estamos sozinhos, ou com medo, ou felizes demais. Com certeza não falamos tudo. Parece que se falarmos, uma parte de nós irá junto com elas, as palavras, e estarão avulsas por aí, sabendo que jamais voltarão. Parece que o que costumamos guardar faz muito sentido até alguém falar o mesmo que você pensou e você cai na real de que nunca estamos sozinhos nas nossas dores e alegrias. Acho que na verdade desejamos que as pessoas decifrem nossos pensamentos. 
Essa semana me perguntaram se tenho medo. A resposta é óbvia. Mas confessar um medo não é fácil. É preciso muita força pra reconhecer fraqueza. E em alguns momentos a força parece dar um "tchauzinho", deixando você e o medo se encarando. Taí outra coisa que mete medo. Encarar, olhar de frente. Mas fazer isso com os medos? Não apenas com eles, mas com a alma! Olhar-se de frente e deixar a represa contida no olhar se romper e, desaguar no chão da vida. Tem dia que você encara e parece levar um tapa no rosto. Tem dia que você tenta recomeçar e sorri. Não um riso de contentamento, mas de trégua. O riso simpático que abraça. Até nisso há Beleza. A trégua, o riso, o abraço e o poema que você e sua alma cantarolam para o Criador. Ambas pedindo que a força volte para nunca mais ser pródiga.
E sobre as verdades não ditas a nós mesmos, eis que Jorge Camargo descreve perfeitamente nessa oração cantada.

Confissão - Jorge Camargo

Há uma fome no meu coração
Como se fosse uma África
Que precisando de muito, mas muito pão
Só encontrasse migalhas no chão
Como se fosse um motor
Sem combustível
Uma batalha interior,
Armagedom invisível
Há um navio aguardando no cais
Da minha alma exilada
Que tendo leme, marujos, tripulação
Ergue as velas e parte
Eu não
Acho que Você já percebeu
Desde bem cedo
Mais do que eu saiba falar
Eu tenho muito medo
Medo de Te perder,
Medo de me encontrar
Medo de partir
Mesmo se desconfiasse
Que seria melhor ficar
Medo de morrer só
Ou de virar um Jó
Medo de secar
Se a vida de repente resolvesse
Desabrochar

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