A velha e a moça

66 são os anos que me tornam diferentes da minha avó.
Minha avó olhando no espelho, reflete: olha os meus cabelos brancos! Tenho 86 anos. - Não, vó. 91. - Isso tudo? Eu tenho 91 anos? Puxa! Até que sou uma velha bonita.
Taí a beleza da velhice.
Mas o que é ser velho? De acordo com dona Maria (vovó), ser velho é ter a vida que ela tem. Dormir quando quiser, assistir programas de culinária e, principalmente, poder tomar seu adorado café com leite e pão sem manteiga.
Fico pensando se eu, meus filhos e os filhos dos meus filhos terão uma velhice assim também.
Idosos são fofos. Dá vontade de apertar? Dá. Mas cuidar não é fácil. 
Eles tem suas manias. Não, você não conseguirá mudá-los. Aceite.
Eles precisam de alimentação certa, embora umas boas porcarias caiam bem de vez em quando. Claro, se seus avós não tiverem nenhum problema de diabetes e colesterol.
Minha vó não tem nada disso. Comer é o prazer dela. Eu até acho que quando ela fez a cirurgia, os médicos trocaram seu estômago por um buraco negro. 
Alguma ocupação específica faz muito bem. Num mundo perfeito os idosos fariam hidroginástica todas as manhãs, fariam vários cachecóis de lã para os netinhos, fariam bordados nos panos de cozinha e etc. Mas sabemos que não é assim. 
A única ocupação que minha vó se permitiu fazer foi a de fazer dengo. Nisso ela deveria ter diploma. Faz com perfeição. Mas se você quiser saber se ela está te chantageando psicologicamente é só dizer que tem bombom. A mudança de humor é inacreditável!
Assistir filmes é legal. Embora filmes longos não prendam tanto sua atenção. Coloca um Mr. Bean que é batata! Vai que dá! Vovó adora Mr Bean. "Rí que se escangalha", diria ela.
Música também é uma ótima distração. Já tentou cantar com seus avós? Sim, eles sabem cantar. 
Vovó canta a mesma música todos os dias: 
"Que as palavras da minha boca e a meditação do meu coração sejam todas em louvor a Ti, oh, Senhor!" 
É uma oração cantada. Fazemos um dueto ás vezes. Se eu acho chato? Não. Começar o dia cantando esse salmo faz refletir. 
Agora ela tem cantado mais com a sua ajudadora. Às vezes nem chama mais pelo meu nome. Mas é superável. Independente de quem aparecer na vida dela, sempre serei a lindinha da vovó. Sim. Eu sou. E isso é um tanto que maravilhoso. Não tão maravilhoso quanto o abraço dela. Parece que tem um encaixe perfeito nos meus braços, ainda mais quando combinados com os beijinhos de boa noite. 
Taí a beleza do cuidado.
Mas nem tudo são flores. Tem o dia do "você não me ama mais". Meu amigo, nem mil maracujás e brigadeiros resolvem. Se você ainda não passou por isso, já pode ir juntando sua paciência desde agora porque você vai precisar de muita!
Taí a beleza da experiência.
Meus avós me ensinam muitas coisas. 
Me ensinam que instruir os filhos no Caminho faz toda a diferença. Sem Jesus não dá! Me ensinam que os cabelos negros são pintados pelo tempo e tornam-se brilhantes como a prata; que as mãos, outrora fortes, agora dão lugar a sensibilidade e a delicadeza, aguardando uma outra mão para as guiarem: a sua; que a agilidade da juventude se esvai e ficam os reflexos da linda história, que agora os fazem repousar, com a serenidade e amor de filhos e netos, sobre o lar que fora construído com suor, lágrima e sustento de Deus.
Taí a beleza da vida.

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