Gente que inspira - Vovô Jocis

Tenho uma mania peculiar. Todos as noites antes de dormir olho as notícias que aconteceram na data presente sem especificar o ano. Assim, descubro quem nasceu, morreu e qual notícia foi marcante no dia. Não conheço nem 5% das pessoas citadas alí. Quando clico no nome, vejo um resumo da vida da pessoa. E acho completamente incrível que uma pessoa completamente estranha, talvez para muitos, tenha feito algo simples, mas que foi suficiente para ser mencionada. 
Essas pessoas me inspiram. E se desconhecidos de outras épocas me inspiram, imagina aqueles que estão presentes, ou onlines, no meu cotidiano! 
Por isso, quero falar dessas pessoas que inspiram. 
Talvez não tenha o mesmo significado para você, ou talvez possa ter, não sei, mas quero e desejo fazer isso. 
Cada dia falarei de gente que encanta o mundo (e o meu mundo) de alguma forma. Desejo que possa encantar seu mundo também!
Hoje começo com meu avô Jocis.
O único avô que conheci. E ele soube ser avô duas vezes.
Sua casa em Itaperuna - RJ, é um convite a ficar de pernas pro ar e engordando muito, sem brincadeira.
Me lembro do meu avô puxando minha orelha na hora da bagunça, da voz grossa ao me por de castigo e das piadas de sempre que ele conta até hoje e ainda assim a gente ri delas. 
Recentemente mudado de endereço, moramos juntos agora em São Gonçalo - RJ.
Ontem de manhã sentei ao lado dele e disse que gostaria de fazer algumas perguntas, tipo uma entrevista. 
Ele ficou todo bobo.
Se ajeitou no sofá e começamos a conversar.
Vô, qual seu sonho quando criança? Perguntei. Ele coçou a cabeça, fechou os olhos, como se fizesse uma viagem no tempo e fosse parar lá no passado. 
"Queria ser alto como meu pai. Ficava olhando pra cabeça dele e me perguntando como e quando eu ficaria daquele tamanho. Quanto a profissão não me lembro, só queria ser alto mesmo. Aos 10 anos voltei a sonhar. Sonhava ser pastor, mesmo não conhecendo nada de pastor e nada de igreja", respondeu vovô, com um sorriso meio que escapando nos lábios.
Mas por quê ser pastor, vô? 
Ah, queria fazer algo importante. Eu sentia um ardor no coração pelo Evangelho e pelas pessoas. Não conhecia muito do Evangelho, mas já sentia uma coisa no coração quando ouvia a respeito.
Fiquei imaginando meu avô pequeno na roça falando que iria ser pastor, sem mesmo saber o que isso significava. Quando é pra ser, parece que dá pra ouvir o universo cantando amém.
Vovô me disse que quando conheceu o pastor Francisco Ribeiro da Silva, soube que era isso mesmo que queria ser. Aquele homem o inspirava e o incentivava a ser o que desejava.
Agradeço a Deus pela vida do pastor Francisco. O homem que inspirou meu avô. 
Meu avô seguiu seu sonho. 
Hoje ele fala com alegria dos seus 62 anos de ministério pastoral.
Falava de Jesus na roça, no meio da mata, no cafezal, no pasto, no alto da serra, na baixada, a cavalo, de bicicleta, a pé, atravessando rios com as barras das calças dobradas, de terno e gravata e com a bíblia levantada para não molhar (às vezes não obtinha êxito no quesito ficar seco). Risos.
Pastoreou 11 igrejas, duas das quais ficou bastante tempo: Águas Claras - 38 anos e Boa Ventura - 22 anos (onde se alegra muito ao lembrar dos 30 batismos ocorridos no mesmo dia); todas elas no município de Itaperuna. 
Batizou mais de mil pessoas em todo o seu ministério.
Vi meu avô sorrir por inteiro ao recordar de sua vida. Não foi fácil. Mas como ele disse no final "até aqui me ajudou o Senhor". E eu tenho certeza disso.
Meu avô me inspira pela sua alma pacífica. 
Seu sorriso quando a gente se abraça durante o dia e ele diz que o abraço é uma UPA: Unidade de Pronto Atendimento. Fofo.
Me inspira pelo amor que sente por minha vó. São 62 anos de casados. 
Meu avô, com 88 anos, ainda prega, e no início dos seus sermões costuma deixar a família, principalmente Tio Josias, tenso! Vovô diz que gostaria de morrer pregando. Imagina a cena da igreja e a expectativa de não-morte! Risos.
Meu avô não é perfeito e muito menos imortal. Por isso aproveito com carinho suas palavras e presença. E hoje registro aqui o que ele significa para mim e para muitos.
Meu avô. Meu sangue Godoy.

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