A dádiva

Enquanto eu me sentia vulnerável pela descoberta do meu novo diagnóstico e que ele é múltiplo, eu lia o livro de Philip Yancey, em que destaca pessoas que foram importantes em sua vida. Dentre elas, Dr. Paul Brand, que de uma forma bem bonita, falava da dádiva da dor.
Ok. Ninguém gosta de sentir dor! Quando minhas dores começam, já vou pro meu kit farmacinha e tomo meus remédios de emergência sem me importar se vou ficar grogue, falando coisa com coisa, gravando áudio perguntando o que é genro. Meu desejo é me livrar da dor. Óbvio! 
E no meio dessa vulnerabilidade que a dor faz a gente se encontrar, dr Paul vem, puxa uma cadeira e a coloca bem na minha frente, olha nos meus olhos e diz "miga, pare!". Não, ele não falou isso, mas foi engraçado. Ele disse "minha querida Vivi, a dor é uma dádiva".
Dr. Paul passou grande parte de sua vida cuidando das pessoas com hanseníase, no leprosário em Vellore, na Índia. Ele descobriu que as pessoas com lepra sofrem cegueira, amputação de membros em decorrência da ausência da dor, e que a hanseníase fazia isso simplesmente destruindo as terminações nervosas. As pessoas que haviam perdido a sensação da dor, machucavam-se com frequência, suas feridas inflamavam e só se davam conta da ferida quando era tarde demais. "Não posso pensar em presente maior para meus pacientes do que a dor."
Nem preciso dizer que me apaixonei por esse homem e sua família na hora! Ele me inspira ainda mais em me tornar o que quero ser e ajudar as pessoas com isso.
Entendo  que ele quer dizer que a dor é um presente. Não entenda que isso quer dizer que todos devem sentir dor. Não. Quero dizer que, pessoas que sentem dores todos os dias, ou talvez uma vez ou outra, tem sorte de sentir dor. Se não fosse a dor, não procuraríamos o médico, não descobriríamos o que há de errado com nosso corpo. Ninguém vai ao médico simplesmente para dizer "bom dia, doutor, vim aqui para o senhor falar de como é lindo o mecanismo de bombeamento do coração, e pra falar que estou feliz com minha apêndice". 
Não sei se estou conseguindo passar a limpo o que minha mente escreveu, mas estou feliz por entender que a dor é um presente e que sem ela não descobriria meu diagnóstico, e por pior que ele seja ou que eu imagino ser, estou feliz. 
Feliz pela forma que a dor me faz ver o mundo.
Se te uma coisa que eu aprendi com a dor é que se a dor é universal, a esperança também é!


Comentários

  1. Que linda verdade, Vivi! Me fez lembrar de uma frase do C. S. Lewis " A dor é o megafone de Deus". Obrigada por compartilhar. Beijos

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